A Guerra dos Bárbaros e o fim do reinado do "Rei" Janduí no sertão do Seridó e Açu

Até meados do Séc. XVII, os grupos indígenas Tarairiús, Canidés, Pegas, Sucurus e Cariris   viviam soberanos no sertão potiguar e paraibano, nas suas rotinas, sem serem importunados pelos invasores europeus que instalaram-se no litoral do Brasil.
No entanto, esta "monotonia" foi gravemente violada quando foram outorgados pelo Rei de Portugal a alguns latifundiários, semarias de terra, a partir de 1650, para a interiorização da atividade pecuária no Seridó e Vale do Açu.
Só que, as terras do interior do RN e da PB não estavam desocupadas, nelas viviam diversos grupos, denominados pelos portugueses de Tapuias. Estes grupos índigenas se diferenciavam dos grupos tupis, na sua aparência e também culturalmente. Tinham composição física diferente dos Potiguaras e falavam uma língua própria e por isso, foram denominados de Bárbaros (os que não falavam Tupi-Gurani).

Tarairiús numa dança ritualística

Remanescentes dos Potiguaras

Quando os fazendeiros começaram a invadir com seus rebanhos, o espaço ocupados pelo Tapuias o conflito ficou sendo inevitável, com morte de ambos os lados. Os grupos tapuias sentiram a necessidade de se unirem para enfrentar os alienígenas e sob a liderança do Cacique Janduí, começaram por meio de assaltos de guerrilha a inviabilizar a instalação das primeiras fazendas de gado.

De 1690 até 1710, foi travada uma verdadeira guerra no interior do RN pela posse da terra. De um lado os indígenas, conhecedores exímios dos sertões do Seridó e do Açu, liderados pelo Cacique Janduí; e do outro, os portugueses e caboclos brasileiros, mais avançados tecnologicamente. Depois de vários combates  favoráveis aos índigenas, foi solicitada a ajuda de bandeirantes paulistas, dentre eles de Domingos Jorge Velho, e aos poucos a resistência é vencida com um verdadeiro genocídio de todos os grupos nativos do interior do RN. Os poucos sobreviventes foram pegos e se integraram a força a cultura dos "brancos" vitoriosos.

Ruínas da Casa Forte do Cuó

Para defender os proprietários de terra, em 1683 por iniciativa do Coronel Antônio de Albuquerque da Câmara foi construída uma casa fortificada que serviria de habitação e ao mesmo tempo posto defensivo (1687-1690). Esse ponto estratégico ficava no sítio Penedo.

"No auge do conflito, a Casa-Forte do Cuó, como descreviam os documentos da época, abrigou as tropas de Antônio de Albuquerque da Câmara, posteriormente acudidas pelos soldados do Terço Paulista sob o comando de Domingos Jorge Velho, contratado para combater os índios seridoenses nas proximidades de Jardim de Piranhas em outra casa-forte. O mesmo personagem que, com suas tropas, anos depois, combateria o Quilombo dos Palmares.

O termo “Cuó” é o mesmo que Acauã (tupi) em língua tarairiu, pássaro devorador de cobras (Herpetotheres cachinnans (L.)). Se a ele acrescentarmos “Quei” (rio, também um termo tarairiu) temos Queiquó (Rio Acauã, posteriormente, Seridó) que daria origem ao nome de Caicó.

A Casa-Forte do Cuó é um importante patrimônio histórico, pois foi uma das primeiras construções coloniais do Seridó. É um marco também do massacre aos povos indígenas seridoenses. Foi a partir do movimento de tropas na Casa-Forte que mais tarde o arraial do Queiquó daria origem à nossa cidade. Atualmente restam somente vestígios de seus alicerces."
Ricky Sammy Lunardello Casado